quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Raad entra para a história como o terceiro parlamentar cassado pela Câmara

Receio da opinião pública e fatores políticos levaram deputados a romperem acordos que garantiam a absolvição do distrital

Publicação: 31/10/2013 06:03 Atualização: 30/10/2013 23:10

Confiante durante a sessão, Raad Massouh se manteve em plenário até pouco antes do resultado. Foi o único a não se manifestar nas urnas (Daniel Ferreira/CB/D.A Press)
Confiante durante a sessão, Raad Massouh se manteve em plenário até pouco antes do resultado. Foi o único a não se manifestar nas urnas

O deputado Raad Massouh (PPL) entrou ontem para a história da Câmara Legislativa como o terceiro parlamentar cassado pela Casa — os outros dois são Carlos Xavier e Eurides Brito. Por 18 votos favoráveis à perda de mandato, três contrários e duas abstenções, os distritais consideraram Raad culpado das acusações de desvio de emenda. Mas, nos bastidores, as suspeitas apuradas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF não foram decisivas para a degola. Interesses políticos e eleitorais e denúncias de extorsão durante o trâmite do processo, além da antipatia de alguns deputados por Raad, pesaram no resultado.

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O placar surpreendeu a maioria dos distritais, já que o próprio parlamentar do PPL estava confiante de que escaparia e levou até sua claque para as galerias do plenário. O consenso é de que houve traição. A votação secreta que cassou Raad foi tumultuada por acusações, troca de farpas e muita tensão. A sessão começou pouco depois das 16h, com a presença de todos os 24 distritais. O relator do processo na Comissão de Ética, deputado Joe Valle (PDT), resumiu o relatório em que pediu a cassação. “A medida a ser aplicada é a mais severa. As provas caracterizam quebra de decoro”, disse.

Acompanhado da mulher, Ádila Stemler, e do presidente regional do PPL, Marco Antônio Campanella, Raad dispensou os advogados e falou durante quase 20 minutos na tribuna. Argumentou que nunca foi condenado pela Justiça e garantiu que tem a consciência tranquila. Segundo investigações do MP e da Polícia Civil, ele teria se apropriado de parte de uma emenda de R$ 100 mil, destinada à realização de um evento rural em Sobradinho em 2010. “Eu não iria fazer maracutaia por causa de R$ 47 mil. Se fosse assim, iria fazer por algo que me desse mais vantagem”, argumentou Raad. E continuou: “A Polícia Federal tem laudo que diz não haver nenhum indício de que eu tenha me apropriado de recursos da emenda. Não cometi nenhum delito, estar aqui hoje por conta de uma coisa tão pequena, sem nenhum crime comprovado, é ridículo”, acrescentou o distrital. “Sou um homem de respeito, trabalho desde os 14 anos, nunca precisei roubar. Tudo o que tenho conquistei com suor e trabalho”, emendou.

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

BMW diz que irá recorrer da condenação pela morte do cantor João Paulo.

Montadora foi condenada a pagar indenização que passa dos R$ 400 milhões pela morte do sertanejo, causada por um acidente em um modelo 328i em 1997


Emerson Campos - Portal Uai
Publicação: 30/10/2013 08:28 Atualização: 30/10/2013 10:24

 (Divulgação)
A BMW informou que irá recorrer da sentença do juiz Rodrigo Cesar Fernandes Marinho, da 4ª Vara Cível de São Paulo, que condenou, nesta terça-feira (29), a BMW do Brasil e a matriz alemã a pagarem R$ 300 mil de indenização para Roseni Barbosa dos Santos Reis e Jéssica Renata dos Reis, respectivamente mulher e filha do cantor João Paulo (parceiro do Daniel), morto em acidente de carro em 12 de setembro de 1997, na rodovia dos Bandeirantes.

De acordo com a decisão, baseada em um laudo pericial, o acidente que matou João Paulo foi provocado por um problema no pneu do BMW 328i, que capotou, atravessou o canteiro central e pegou fogo. Na época, o assunto foi muito discutido, mas um primeiro julgamento, ainda em 2003, acabou livrando a montadora da culpa.

Apesar da indenização inicial ser estipulada em R$ 300 mil, a montadora foi condenada a pagar valores equivalentes a 2/3 dos rendimentos do sertanejo referentes ao período compreendido entre a data da morte e o aniversário de 25 anos da filha. Segundo o advogado da família, Edilberto Acácio, o total deve girar em torno de R$ 400 milhões. 

Em nota, a BMW informou que vai recorrer. Confira a íntegra: 

"Sobre a sentença disponibilizada pela 4ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo na data de hoje (29.10), referente ao caso envolvendo o cantor brasileiro José Henrique dos Reis (João Paulo – nome artístico), falecido em acidente de automóvel em setembro de 1997 em um veículo da marca BMW, a BMW do Brasil informa que não concorda com a decisão. A empresa esclarece que essa é uma decisão de primeira instância e que apresentará recurso de apelação junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo, quando o caso será novamente julgado por um órgão colegiado formado por desembargadores. Como de costume, a BMW do Brasil compromete-se a tratar do assunto com transparência." 


Carreira
Natural de Brotas (SP), João Paulo teve uma infância humilde. Em 1980, após cantar alguns anos com o irmão (Francisco), começou a parceria com Daniel na cidade natal. O primeiro disco, "Amor Sempre Amor", saiu em 1985 pela gravadora Continental Chanceler.

O auge da carreira chegou em 1996, com o lançamento de "João Paulo e Daniel Vol. 7", que trouxe a canção romântica "Estou Apaixonado" e vendeu mais de um milhão de cópias. Vítima do preconceito com duplas sertanejas e, inclusive, do preconceito racial, João Paulo formou com Daniel uma das duplas sertanejas com a melhor afinação entre primeira e segunda voz no país.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Chef de casa latino-americana comemora sucesso da gastronomia

  

Sob os cuidados de David Lechtig, a receita andina de ceviche é servida com 12 opções fixas da iguaria.

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Mariana Vieira - Especial para o CorreioRebeca OliveiraVinicius Nader
David Lechtig apresenta o mole poblano, um prato mexicano (Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press)
David Lechtig apresenta o mole poblano, um prato mexicano
Nascido no peru, criado na Guatemala e morador de Brasília, onde comanda a rede de restaurantes El Paso, o chef e empresário David Lechtig carrega vários traços da multifacetada cultura latino-americana e comemora o momento que atravessa atualmente a gastronomia da região. “Esse crescimento da nossa cozinha demorou para acontecer e, há uns três anos, veio como uma resposta, uma contraposição à cozinha molecular, que era complexa demais. A nossa gastronomia chama a atenção pela simplicidade e pelo valor histórico, milenar que ela carrega”, afirma David.

O chef ressalta que o Brasil demorou a se atentar para a cozinha dos vizinhos, o que, segundo ele, só ocorreu há cerca de 20 anos. Um ícone da simplicidade citada por David é a célebre receita andina de ceviche. O item faz sucesso nos restaurantes do chef. São 12 opções fixas da iguaria, além de receitas que aparecem esporadicamente ou de festivais, como o que está sendo realizado até domingo na casa da 404 Sul.

Receitas clássicas
Ceviche amazônico do El Paso mistura os sabores peruano e brasileiro (Telmo Ximenes/Divulgação)
Ceviche amazônico do El Paso mistura os sabores peruano e brasileiro

No menu do El Paso, a iguaria pode ser degustada em receitas como a la passion (R$ 32), preparada com robalo, cebola roxa e pimenta ali rojo marinados no limão com salsa e maracujá. Até domingo, David oferece ceviches com sabores como o amazônico, que combina pirarucu com flores de jambu e azeite de sementes da Amazônia peruana que custa R$ 44.
O mole poblano (R$ 41), frango ao molho de chocolate também é uma das atrações da casa.É um clássico em dias de festa no México.

Sabores calientes

Alguns temperos estão intimamente ligados à gastronomia da América Latina. E a pimenta figura como um dos que melhor representam a culinária da região. Estudiosos apontam que ela tenha surgido na Colômbia, há 6.000 anos, antes de ser cultivada no restante do mundo. David Lechtig ressalta que daqui é que ela foi para outros continentes, como África, Ásia e Europa.

No restaurante El Paso, a pimenta jalapeño — conhecida por sua potência — é apresentada em seu formato original. E mais: leva recheio de cream cheese e é empanada em panko (uma farinha japonesa). O item faz parte do bufê de petiscos que a casa oferece às quartas e às quintas, a R$ 37,90 por pessoa.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Simone faz show em Brasília


28/10/2013 15h53 

Repertório traz músicas de Marina, Rita Lee e até Fernanda Montenegro.
Espetáculo acontece nesta quinta-feira (31), no Teatro da Unip, às 21h.

Do G1 DF
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Simone faz show em Porto Alegre (Foto: Divulgação/Site Simone Bittencourt)Cantora Simone faz show em Brasília (Foto: Site Simone Bittencourt/Divulgação)
A cantora Simone sobe ao palco do Teatro da Unip, na 911 Sul, em Brasília, nesta quinta-feira (31), a partir das 21h. A turnê "É melhor ser" tem como base o álbum de mesmo nome, que deve ser lançado ainda este ano. Os ingressos custam R$ 60 (meia-entrada).
Cinco anos depois de se apresentar ao lado de Zélia Duncan no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Simone traz para a capital federal um show com canções de compositoras que foram importantes durante a carreira dela, como Rita Lee, Joyce Fátima Guedes, Marina Lima e Sueli Costa.

Entre as novidades do espetáculo, está a música “A propósito”, parceria de Simone com a atriz Fernanda Montenegro. A artista também apresenta versões para as consagradas “Charme do mundo”, de Marina e Antônio Cícero, “Mutante”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, “Acreditar”, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, e “Descaminhos”, de Joanna e Sarah Benchimol.

O show tem direção geral da atriz Cristiane Torloni. Simone sobe ao palco acompanhada pelo pianista Leandro Braga, o guitarrista e violonista João Gaspar, o contrabaixista Bruno Migliare, o baterista Christiano Galvão e o percussionista André Siqueira.

É melhor ser – show com a cantora Simone

Data: quinta-feira (31)
Horário: 21h
Local: Teatro da Unip (911 Sul)
Ingressos: R$ 60 (meia-entrada); R$ 120 (inteira)

Roberto Carlos se diz a favor de biografia não autorizada, desde que haja "certos ajustes"



 
Da folha DE SÃO PAULO.
O cantor Roberto Carlos disse que é a favor da publicação de biografias sem autorização prévia, desde que haja "certos ajustes" à legislação vigente. A afirmação foi feita no programa "Fantástico", em entrevista à apresentadora Renata Vasconcellos exibida na noite deste domingo.
Sem especificar que mudanças defende, o cantor afirmou também ser favorável ao projeto de lei sobre biografias que tramita no Congresso. Se aprovada, a proposta modificará a legislação atual, permitindo que obras sejam publicadas sem a necessidade de anuência do biografado.
Questionado sobre o que propõe quanto à publicação de biografias, o cantor foi evasivo e disse ser necessário "conversar" e "discutir" para "chegar a um equilíbrio".E defendeu a aplicação de regras "que não prejudiquem nem o biografado nem o biógrafo".
Em 2007, Roberto Carlos tirou de circulação a biografia "Roberto Carlos em Detalhes", escrita pelo jornalista Paulo César de Araújo.
A entrevistadora perguntou se ele hoje liberaria o livro, ouvindo como resposta que "isso tem que ser discutido". "O biógrafo faz um trabalho e narra aquela história que não é dele. Quando ele escreve, ele passa a ser dono dessa história. Isso não é certo."
Para o músico, a possibilidade de recorrer à Justiça depois da publicação da obra é "um pouco tardia". "Todo mundo já viu pela internet, alguns já compraram os livros. isso não funciona."
O músico negou que seu posicionamento seja relacionado ao acidente que lhe fez perder parte da perna direita, história contada na biografia escrita por César de Araújo.
"Pessoas têm dito que sou contra [a publicação de biografias sem autorização prévia] por causa do meu acidente, não é isso, não", disse.
Na entrevista, Roberto Carlos anunciou que está escrevendo uma autobiografia abordando o que acha ter "realmente sentido" em relação àquilo que viveu. "Ninguém poderá contar do meu acidente melhor que eu."
Roberto Carlos é um dos fundadores do Procure Saber, grupo que reúne também Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Erasmo Carlos e Djavan.
O grupo é favorável à necessidade de autorização prévia para biografias e diz que pretende entrar como parte interessada na ação que questiona a legislação vigente no Supremo Tribunal Federal.






domingo, 27 de outubro de 2013

Derramamento de óleo expõe outros problemas que afetam o Lago Paranoá

 O assoreamento e o despejo de dejetos são algumas das irregularidades identificadas no reservatório. Só neste ano, a Adasa mapeou 173 pontos de esgoto e captação clandestinos no local



Técnicos da Petrobras ficam atentos ao trabalho de contenção do óleo que se espalhou pelo lago há 10 dias  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )
Técnicos da Petrobras ficam atentos ao trabalho de contenção do óleo que se espalhou pelo lago há 10 dias
A mancha de óleo que apareceu há 10 dias no Lago Paranoá expõe as fragilidades do espelho d’água. Destino de lazer dos brasilienses, segunda casa de atletas e fonte de renda para alguns, o espaço está suscetível a muitos riscos, que podem comprometer o tamanho e a qualidade do reservatório. O vazamento do produto derivado do petróleo por meio da rede de galeria pluviais, que contaminou a água, matou animais e suspendeu algumas atividades, é uma das ameaças. O assoreamento, o despejo ilegal de lixo e esgoto e a ocupação desenfreada da orla também são situações preocupantes.

Embora as suspeitas da origem do vazamento apontem para as caldeiras do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e para as obras de recapeamento do Programa Asfalto Novo, do GDF, muitos dos problemas esbarram na falta de conscientização da comunidade. Ações corriqueiras, como limpar calçadas e carros com mangueira e jogar o papel higiênico no vaso sanitário, também podem provocar danos irreparáveis ao reservatório. A água usada na lavagem de rua entra nas bocas de lobo, cai nas galerias pluviais e tem endereço: o lago. Leva sujeira, restos de óleo, graxa e até pedaços de pneus.

Presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Paranoá, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Salles faz um alerta: “O vazamento de óleo é um sinal de que há outros problemas da mesma natureza na rede de drenagem”, opinou. Segundo ele, o esgoto jogado clandestinamente nesse sistema é um dos principais riscos a que o lago está exposto.

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Companhia de dança Mário Nascimento se apresenta no Teatro da Caixa




Três peças serão apresentadas. Os dançarinos ainda contam com instrumentos musicais


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Rebeca Oliveira
 Oito bailarinos integram a trupe que se apresenta na cidade (Marco Aurelio Prates/Divulgação)
Oito bailarinos integram a trupe que se apresenta na cidade

A companhia de dança Mário Nascimento faz 15 anos. Desde a estreia, Mário e seus dançarinos carregam prêmios de peso: o da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), conquistado em 1998, é um bom exemplo. Tamanho reconhecimento só poderia ser celebrado no palco: desta sexta a domingo, a companhia apresenta a trilogia Escapada, Território nu e Nômade, no Teatro da Caixa.

As três peças representam os maiores sucessos da companhia. Escapada conta a história de retirantes e imigrantes em busca de um recanto. Um reflexo da trajetória de Nascimento, que migrou de Cuiabá para São Paulo. “Ironizávamos tudo — inclusive a própria arte”, recorda o diretor. Além de atuarem como bailarinos, os artistas da companhia cantam, têm falas e tocam instrumentos durante a apresentação.

Nômade demonstra que a companhia não precisa pertencer a um lugar. “Não tínhamos uma sede física e isso era um incômodo. Mas descobrimos que não precisamos disso: somos itinerantes”, afirma Nascimento, atualmente radicado em Belo Horizonte.

Espetáculos da Cia. Mário Nascimento

15 anos da companhia de dança, com espetáculo Escapada, nsta sexta (25/10), às 20h; Território nu, sábado, às 20h; e Nômade, domingo, às 19h; Teatro da Caixa Cultural (SBS, Q. 4, Lt. 3/ 4; 3206-9448). Ingressos: R$ 14 (inteira) e R$ 7 (meia entrada para estudantes, maiores de 65 anos, professores, funcionários e clientes da Caixa e doadores de um brinquedo). Não recomendado para menores de 12 anos.
Programação das oficinas de arte e dança

15 anos da companhia de dança Mário Nascimento. Oficina de dança contemporânea com Mário Nascimento, hoje, das 11h às 13h; e oficina de arte integrada, com Rosa Antuña, amanhã, das 14h às 15h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul, Quadra 4; informações 3206-9448). Inscrições gratuitas pelo e-mail contato.ciamn@yahoo.com.br. Não recomendado para menores de 12 anos.

Confira entrevista com o diretor e coreógrafo Mário Nascimento

O que mudou entre Escapada e Nômade, primeiro e último trabalho da companhia?

Mudou tudo (Risos). Quando fiz meu primeiro trabalho (Escapada, em 1998) logo de cara ganhei o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Nos apresentamos na Europa e tivemos criticas muito bacanas. Eu queria conquistar o território e consegui. Mas, a realidade da arte e de fazer a companhia se fixar no mercado é árdua. Escapada era um cara pedindo carona, desesperado, indo a algum lugar e buscando conquistar algum espaço. Éramos eu e o Fábio Cardia. Com um espírito rock n’roll, ironizávamos tudo -- inclusive a própria arte. Nos 15 anos do grupo, resolvi voltar com o espetáculo Escapada nessa trilogia. Tratava-se da história de retirantes e imigrantes, que era o meu caso. Nasci em Cuiabá e fui muito cedo para São Paulo. Uma capital imensa, insana e maluca. Logo depois, fiz meu território, consegui me fixar. E aí que surge Território nu, que fala sobre delimitar as fronteiras. Já no Nômade, eu mudei. Se em Território nu o grupo e a companhia estavam se fixando, em Nômade, vemos que não precisamos de um lugar, e sim de um não-lugar. É um paradoxo, mas em cada espetáculo colocamos um ponto de vista diferente.

Não preciso delimitar fronteiras e sim estar no mundo, e é o que nós colocamos em nossas apresentações. O artista tem que se "desterritorializar" e gritar para o mundo suas criações.

O fato da companhia mudar de São Paulo para Belo Horizonte influenciou?

Fui mudando minha maneira de ver o mundo e a condição do artista e da minha companhia no universo, em lugares que ela tem que estar. Nós não tínhamos uma sede física e isso era uma incomodo para a companhia. Mas, descobrimos que não precisamos disso: somos itinerantes. Hoje, estamos em Belo Horizonte. Embora esse elenco esteja junto há certo tempo, as pessoas vão e voltam.

Mais que bailarinos, os artistas cantam, têm falas e tocam instrumentos durante a apresentação. Isso marca o trabalha da companhia?

Trabalhamos com impacto. Isso se nota nos três espetáculos. Discutimos a dança, a música (tanto a trilha sonora quanto a voz) e a pesquisa artística. A metalinguagem é uma característica nossa. A coreografia não existe e não se casa sem um trabalho de voz e movimento, um leva ao outro. Depois, há uma fusão dos três elementos. No caso da dança, não vejo só o movimento pelo movimento, mas enxergo-o como uma encenação. É possível trazer outros elementos para o meu trabalho. A minha curiosidade é estar em todos esses lugares. É o meu complexo de Bob Wilson, um excelente coreógrafo e diretor norte-americano.

Como as três apresentações dialogam entre si?

Existe um paralelo entre elas e em cada movimento exige uma mudança. Um grupo, para se manter, tem que estar em constante estado de evolução. Eu provoco muito meu elenco para que ele não fique só naquele lugar. O espetáculo se altera a cada apresentação. O diálogo com o público se estabelece através da dúvida. Trabalho com muita provocação. Oriento meus bailarinos a fazer determinadas ações em momentos diferentes. Falo com que o elenco pense sempre na escapada.

A improvisação é uma marca forte da companhia?

Essa é uma marca muito forte do grupo. Estudamos muito o improviso, pois ele é muito rigoroso. Existe uma consistência e ele se dá dentro de um universo. Existe um policiamento, mas não um cerceamento. Isso faz com que escapemos do lugar em que estávamos habituados, não saindo desse campo, mas o ampliamos: é daí que vem o espetáculo Território. É o trabalho que eu faço com a Rosa Antuña e o Fábio Cárdia, que cria todas as trilhas nesses 15 anos da companhia. Ele faz um trabalho de pesquisa, composição e criação a partir de um improviso de ambas as partes até que encontremos nosso elo. Estabelece uma duvida no público: onde está a coreografia, e onde está a improvisação?

É necessário assistir aos três espetáculos para entender o universo artístico da companhia ?

É bacana assistir aos três, eles se independem, mas não tanto. É possível estabelecer conexão entre eles e ter uma compreensão um pouco melhor do trabalho da companhia. Mas eles sobrevivem sozinhos, já tivemos turnê de cada um deles em separado. É muito bom poder fazer os três em sequencia, é rico para o grupo e para o público. Da uma ideia desse processo de construção, desde a trilha, que é transita entre o poético e o rock n’roll.