terça-feira, 29 de outubro de 2013

Chef de casa latino-americana comemora sucesso da gastronomia

  

Sob os cuidados de David Lechtig, a receita andina de ceviche é servida com 12 opções fixas da iguaria.

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Mariana Vieira - Especial para o CorreioRebeca OliveiraVinicius Nader
David Lechtig apresenta o mole poblano, um prato mexicano (Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press)
David Lechtig apresenta o mole poblano, um prato mexicano
Nascido no peru, criado na Guatemala e morador de Brasília, onde comanda a rede de restaurantes El Paso, o chef e empresário David Lechtig carrega vários traços da multifacetada cultura latino-americana e comemora o momento que atravessa atualmente a gastronomia da região. “Esse crescimento da nossa cozinha demorou para acontecer e, há uns três anos, veio como uma resposta, uma contraposição à cozinha molecular, que era complexa demais. A nossa gastronomia chama a atenção pela simplicidade e pelo valor histórico, milenar que ela carrega”, afirma David.

O chef ressalta que o Brasil demorou a se atentar para a cozinha dos vizinhos, o que, segundo ele, só ocorreu há cerca de 20 anos. Um ícone da simplicidade citada por David é a célebre receita andina de ceviche. O item faz sucesso nos restaurantes do chef. São 12 opções fixas da iguaria, além de receitas que aparecem esporadicamente ou de festivais, como o que está sendo realizado até domingo na casa da 404 Sul.

Receitas clássicas
Ceviche amazônico do El Paso mistura os sabores peruano e brasileiro (Telmo Ximenes/Divulgação)
Ceviche amazônico do El Paso mistura os sabores peruano e brasileiro

No menu do El Paso, a iguaria pode ser degustada em receitas como a la passion (R$ 32), preparada com robalo, cebola roxa e pimenta ali rojo marinados no limão com salsa e maracujá. Até domingo, David oferece ceviches com sabores como o amazônico, que combina pirarucu com flores de jambu e azeite de sementes da Amazônia peruana que custa R$ 44.
O mole poblano (R$ 41), frango ao molho de chocolate também é uma das atrações da casa.É um clássico em dias de festa no México.

Sabores calientes

Alguns temperos estão intimamente ligados à gastronomia da América Latina. E a pimenta figura como um dos que melhor representam a culinária da região. Estudiosos apontam que ela tenha surgido na Colômbia, há 6.000 anos, antes de ser cultivada no restante do mundo. David Lechtig ressalta que daqui é que ela foi para outros continentes, como África, Ásia e Europa.

No restaurante El Paso, a pimenta jalapeño — conhecida por sua potência — é apresentada em seu formato original. E mais: leva recheio de cream cheese e é empanada em panko (uma farinha japonesa). O item faz parte do bufê de petiscos que a casa oferece às quartas e às quintas, a R$ 37,90 por pessoa.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Simone faz show em Brasília


28/10/2013 15h53 

Repertório traz músicas de Marina, Rita Lee e até Fernanda Montenegro.
Espetáculo acontece nesta quinta-feira (31), no Teatro da Unip, às 21h.

Do G1 DF
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Simone faz show em Porto Alegre (Foto: Divulgação/Site Simone Bittencourt)Cantora Simone faz show em Brasília (Foto: Site Simone Bittencourt/Divulgação)
A cantora Simone sobe ao palco do Teatro da Unip, na 911 Sul, em Brasília, nesta quinta-feira (31), a partir das 21h. A turnê "É melhor ser" tem como base o álbum de mesmo nome, que deve ser lançado ainda este ano. Os ingressos custam R$ 60 (meia-entrada).
Cinco anos depois de se apresentar ao lado de Zélia Duncan no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Simone traz para a capital federal um show com canções de compositoras que foram importantes durante a carreira dela, como Rita Lee, Joyce Fátima Guedes, Marina Lima e Sueli Costa.

Entre as novidades do espetáculo, está a música “A propósito”, parceria de Simone com a atriz Fernanda Montenegro. A artista também apresenta versões para as consagradas “Charme do mundo”, de Marina e Antônio Cícero, “Mutante”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, “Acreditar”, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, e “Descaminhos”, de Joanna e Sarah Benchimol.

O show tem direção geral da atriz Cristiane Torloni. Simone sobe ao palco acompanhada pelo pianista Leandro Braga, o guitarrista e violonista João Gaspar, o contrabaixista Bruno Migliare, o baterista Christiano Galvão e o percussionista André Siqueira.

É melhor ser – show com a cantora Simone

Data: quinta-feira (31)
Horário: 21h
Local: Teatro da Unip (911 Sul)
Ingressos: R$ 60 (meia-entrada); R$ 120 (inteira)

Roberto Carlos se diz a favor de biografia não autorizada, desde que haja "certos ajustes"



 
Da folha DE SÃO PAULO.
O cantor Roberto Carlos disse que é a favor da publicação de biografias sem autorização prévia, desde que haja "certos ajustes" à legislação vigente. A afirmação foi feita no programa "Fantástico", em entrevista à apresentadora Renata Vasconcellos exibida na noite deste domingo.
Sem especificar que mudanças defende, o cantor afirmou também ser favorável ao projeto de lei sobre biografias que tramita no Congresso. Se aprovada, a proposta modificará a legislação atual, permitindo que obras sejam publicadas sem a necessidade de anuência do biografado.
Questionado sobre o que propõe quanto à publicação de biografias, o cantor foi evasivo e disse ser necessário "conversar" e "discutir" para "chegar a um equilíbrio".E defendeu a aplicação de regras "que não prejudiquem nem o biografado nem o biógrafo".
Em 2007, Roberto Carlos tirou de circulação a biografia "Roberto Carlos em Detalhes", escrita pelo jornalista Paulo César de Araújo.
A entrevistadora perguntou se ele hoje liberaria o livro, ouvindo como resposta que "isso tem que ser discutido". "O biógrafo faz um trabalho e narra aquela história que não é dele. Quando ele escreve, ele passa a ser dono dessa história. Isso não é certo."
Para o músico, a possibilidade de recorrer à Justiça depois da publicação da obra é "um pouco tardia". "Todo mundo já viu pela internet, alguns já compraram os livros. isso não funciona."
O músico negou que seu posicionamento seja relacionado ao acidente que lhe fez perder parte da perna direita, história contada na biografia escrita por César de Araújo.
"Pessoas têm dito que sou contra [a publicação de biografias sem autorização prévia] por causa do meu acidente, não é isso, não", disse.
Na entrevista, Roberto Carlos anunciou que está escrevendo uma autobiografia abordando o que acha ter "realmente sentido" em relação àquilo que viveu. "Ninguém poderá contar do meu acidente melhor que eu."
Roberto Carlos é um dos fundadores do Procure Saber, grupo que reúne também Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Erasmo Carlos e Djavan.
O grupo é favorável à necessidade de autorização prévia para biografias e diz que pretende entrar como parte interessada na ação que questiona a legislação vigente no Supremo Tribunal Federal.






domingo, 27 de outubro de 2013

Derramamento de óleo expõe outros problemas que afetam o Lago Paranoá

 O assoreamento e o despejo de dejetos são algumas das irregularidades identificadas no reservatório. Só neste ano, a Adasa mapeou 173 pontos de esgoto e captação clandestinos no local



Técnicos da Petrobras ficam atentos ao trabalho de contenção do óleo que se espalhou pelo lago há 10 dias  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )
Técnicos da Petrobras ficam atentos ao trabalho de contenção do óleo que se espalhou pelo lago há 10 dias
A mancha de óleo que apareceu há 10 dias no Lago Paranoá expõe as fragilidades do espelho d’água. Destino de lazer dos brasilienses, segunda casa de atletas e fonte de renda para alguns, o espaço está suscetível a muitos riscos, que podem comprometer o tamanho e a qualidade do reservatório. O vazamento do produto derivado do petróleo por meio da rede de galeria pluviais, que contaminou a água, matou animais e suspendeu algumas atividades, é uma das ameaças. O assoreamento, o despejo ilegal de lixo e esgoto e a ocupação desenfreada da orla também são situações preocupantes.

Embora as suspeitas da origem do vazamento apontem para as caldeiras do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e para as obras de recapeamento do Programa Asfalto Novo, do GDF, muitos dos problemas esbarram na falta de conscientização da comunidade. Ações corriqueiras, como limpar calçadas e carros com mangueira e jogar o papel higiênico no vaso sanitário, também podem provocar danos irreparáveis ao reservatório. A água usada na lavagem de rua entra nas bocas de lobo, cai nas galerias pluviais e tem endereço: o lago. Leva sujeira, restos de óleo, graxa e até pedaços de pneus.

Presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Paranoá, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Salles faz um alerta: “O vazamento de óleo é um sinal de que há outros problemas da mesma natureza na rede de drenagem”, opinou. Segundo ele, o esgoto jogado clandestinamente nesse sistema é um dos principais riscos a que o lago está exposto.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Companhia de dança Mário Nascimento se apresenta no Teatro da Caixa




Três peças serão apresentadas. Os dançarinos ainda contam com instrumentos musicais


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Rebeca Oliveira
 Oito bailarinos integram a trupe que se apresenta na cidade (Marco Aurelio Prates/Divulgação)
Oito bailarinos integram a trupe que se apresenta na cidade

A companhia de dança Mário Nascimento faz 15 anos. Desde a estreia, Mário e seus dançarinos carregam prêmios de peso: o da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), conquistado em 1998, é um bom exemplo. Tamanho reconhecimento só poderia ser celebrado no palco: desta sexta a domingo, a companhia apresenta a trilogia Escapada, Território nu e Nômade, no Teatro da Caixa.

As três peças representam os maiores sucessos da companhia. Escapada conta a história de retirantes e imigrantes em busca de um recanto. Um reflexo da trajetória de Nascimento, que migrou de Cuiabá para São Paulo. “Ironizávamos tudo — inclusive a própria arte”, recorda o diretor. Além de atuarem como bailarinos, os artistas da companhia cantam, têm falas e tocam instrumentos durante a apresentação.

Nômade demonstra que a companhia não precisa pertencer a um lugar. “Não tínhamos uma sede física e isso era um incômodo. Mas descobrimos que não precisamos disso: somos itinerantes”, afirma Nascimento, atualmente radicado em Belo Horizonte.

Espetáculos da Cia. Mário Nascimento

15 anos da companhia de dança, com espetáculo Escapada, nsta sexta (25/10), às 20h; Território nu, sábado, às 20h; e Nômade, domingo, às 19h; Teatro da Caixa Cultural (SBS, Q. 4, Lt. 3/ 4; 3206-9448). Ingressos: R$ 14 (inteira) e R$ 7 (meia entrada para estudantes, maiores de 65 anos, professores, funcionários e clientes da Caixa e doadores de um brinquedo). Não recomendado para menores de 12 anos.
Programação das oficinas de arte e dança

15 anos da companhia de dança Mário Nascimento. Oficina de dança contemporânea com Mário Nascimento, hoje, das 11h às 13h; e oficina de arte integrada, com Rosa Antuña, amanhã, das 14h às 15h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul, Quadra 4; informações 3206-9448). Inscrições gratuitas pelo e-mail contato.ciamn@yahoo.com.br. Não recomendado para menores de 12 anos.

Confira entrevista com o diretor e coreógrafo Mário Nascimento

O que mudou entre Escapada e Nômade, primeiro e último trabalho da companhia?

Mudou tudo (Risos). Quando fiz meu primeiro trabalho (Escapada, em 1998) logo de cara ganhei o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Nos apresentamos na Europa e tivemos criticas muito bacanas. Eu queria conquistar o território e consegui. Mas, a realidade da arte e de fazer a companhia se fixar no mercado é árdua. Escapada era um cara pedindo carona, desesperado, indo a algum lugar e buscando conquistar algum espaço. Éramos eu e o Fábio Cardia. Com um espírito rock n’roll, ironizávamos tudo -- inclusive a própria arte. Nos 15 anos do grupo, resolvi voltar com o espetáculo Escapada nessa trilogia. Tratava-se da história de retirantes e imigrantes, que era o meu caso. Nasci em Cuiabá e fui muito cedo para São Paulo. Uma capital imensa, insana e maluca. Logo depois, fiz meu território, consegui me fixar. E aí que surge Território nu, que fala sobre delimitar as fronteiras. Já no Nômade, eu mudei. Se em Território nu o grupo e a companhia estavam se fixando, em Nômade, vemos que não precisamos de um lugar, e sim de um não-lugar. É um paradoxo, mas em cada espetáculo colocamos um ponto de vista diferente.

Não preciso delimitar fronteiras e sim estar no mundo, e é o que nós colocamos em nossas apresentações. O artista tem que se "desterritorializar" e gritar para o mundo suas criações.

O fato da companhia mudar de São Paulo para Belo Horizonte influenciou?

Fui mudando minha maneira de ver o mundo e a condição do artista e da minha companhia no universo, em lugares que ela tem que estar. Nós não tínhamos uma sede física e isso era uma incomodo para a companhia. Mas, descobrimos que não precisamos disso: somos itinerantes. Hoje, estamos em Belo Horizonte. Embora esse elenco esteja junto há certo tempo, as pessoas vão e voltam.

Mais que bailarinos, os artistas cantam, têm falas e tocam instrumentos durante a apresentação. Isso marca o trabalha da companhia?

Trabalhamos com impacto. Isso se nota nos três espetáculos. Discutimos a dança, a música (tanto a trilha sonora quanto a voz) e a pesquisa artística. A metalinguagem é uma característica nossa. A coreografia não existe e não se casa sem um trabalho de voz e movimento, um leva ao outro. Depois, há uma fusão dos três elementos. No caso da dança, não vejo só o movimento pelo movimento, mas enxergo-o como uma encenação. É possível trazer outros elementos para o meu trabalho. A minha curiosidade é estar em todos esses lugares. É o meu complexo de Bob Wilson, um excelente coreógrafo e diretor norte-americano.

Como as três apresentações dialogam entre si?

Existe um paralelo entre elas e em cada movimento exige uma mudança. Um grupo, para se manter, tem que estar em constante estado de evolução. Eu provoco muito meu elenco para que ele não fique só naquele lugar. O espetáculo se altera a cada apresentação. O diálogo com o público se estabelece através da dúvida. Trabalho com muita provocação. Oriento meus bailarinos a fazer determinadas ações em momentos diferentes. Falo com que o elenco pense sempre na escapada.

A improvisação é uma marca forte da companhia?

Essa é uma marca muito forte do grupo. Estudamos muito o improviso, pois ele é muito rigoroso. Existe uma consistência e ele se dá dentro de um universo. Existe um policiamento, mas não um cerceamento. Isso faz com que escapemos do lugar em que estávamos habituados, não saindo desse campo, mas o ampliamos: é daí que vem o espetáculo Território. É o trabalho que eu faço com a Rosa Antuña e o Fábio Cárdia, que cria todas as trilhas nesses 15 anos da companhia. Ele faz um trabalho de pesquisa, composição e criação a partir de um improviso de ambas as partes até que encontremos nosso elo. Estabelece uma duvida no público: onde está a coreografia, e onde está a improvisação?

É necessário assistir aos três espetáculos para entender o universo artístico da companhia ?

É bacana assistir aos três, eles se independem, mas não tanto. É possível estabelecer conexão entre eles e ter uma compreensão um pouco melhor do trabalho da companhia. Mas eles sobrevivem sozinhos, já tivemos turnê de cada um deles em separado. É muito bom poder fazer os três em sequencia, é rico para o grupo e para o público. Da uma ideia desse processo de construção, desde a trilha, que é transita entre o poético e o rock n’roll.

sábado, 26 de outubro de 2013

Diversão e arte - sabadão em Brasília

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Grupo 3 Encena Obra sobre Assédio Moral

Dirigida por Grace Passô, com Débora Falabella e Yara de Novaes no elenco,  Contrações, do inglês Mike Bartlett, estréia dia 19 de outubro, no CCBB. A peça tem sessões aos sábados, às 17h30 e 20h; aos domingos, 18h, e às segundas, 20h.

O quarto espetáculo do Grupo 3 de Teatro constitui prato cheio para os criadores habituados a transformar tudo em ação: a palavra, o gesto, o espaço, a luz, a sonoridade e tudo mais que estimule o jogo de cena. Desde o ventre de seu nome, Contrações, a peça do inglês Mike Bartlett já sinaliza as potencialidades físicas e faladas. Os diálogos enxutos, a codependência de quem comanda e é comandado, o rumor do assédio moral e a circunscrição de um ambiente corporativo são algumas das possibilidades formais e temáticas operadas pela diretora Grace Passô e pelas atrizes Débora Falabella e Yara de Novaes.
Nos tempos atuais, em que o conceito de gestão transborda para o campo pessoal – a vida a ser administrada por “você sociedade anônima” –, Bartlett é cirúrgico em seu diagnóstico e prescrição dramática. Para demonstrar o processo transformador do sujeito e de sua consciência em coisa, o autor radica a concisão de linguagem. O verbo é desferido entre quatro paredes como um sistema de agressões reiteradas para anular a subjetividade alheia. Velha estratégia dos regimes de opressão cada vez mais aplicada à nova ordem mercantil das relações.
É nesse lugar que a gerente de uma grande corporação vai manipular uma funcionária, confundindo deliberadamente aspectos profissionais e privados. Logo na primeira vez em que Emma pisa a sala e abre uma série de conversas informais com a gestora inominada, ela é instruída a ler uma das normas do contrato trabalhista que assinara. Aquela em que são vedados aos funcionários se apaixonar ou manter relações sexuais, curto e grosso assim, sob o álibi de evitar injustiças ou discriminações.
Bartlett, de 33 anos, não abre mão da ironia e do humor, independente do grau de violência a que Emma, interpretada por Débora Falabella, é submetida segundo a lógica cruel daquela que a provoca, na atuação de Yara de Novaes. A desconstrução cumulativa do sujeito é avassaladora a cada reunião a sós. Com medo de perder o emprego, Emma submete-se às perversões de quem a interpela e invade sua intimidade. O açodamento vai às últimas consequências, feito o impiedoso retrato da condição humana composto por George Orwell no romance 1984.
No seu primeiro texto encenado, My Child (2007), Bartlett abordou as agruras de um pai recém-divorciado em busca de acesso ao filho. Em Cock (2009), a sexualidade masculina é colocada em xeque após uma separação. Invariavelmente, ele perpassa a instância do íntimo e tem espaço cativo entre as produções do Royal Court Theatre, renomado centro internacional de pesquisa, formação e fomento a novos autores.
Em oito anos de formação, o Grupo 3 consolida uma identidade coerente ao desvelar tensões em vez de recorrer a procedimentos criativos convencionais na hora de contar uma história no palco. Seus trabalhos convocam o espectador à cumplicidade na jornada pelo desconhecido, estranho, deslocado. Basta citar a disponibilidade em circular pelo interior paulista, em abril passado, expondo o processo criativo de Contrações, ora estreando temporada no CCBB-SP. Cada sessão foi seguida de escuta do público sobre os experimentos tateados pela equipe, contribuições valiosas para efetivar as escolhas estéticas e poéticas.
 
Grace Passô
Convidada a encenar a peça, a também dramaturga e atriz mineira Grace Passô é conhecida pela inventividade ao dosar contundência e delicadeza. Registros que também imprime enquanto escritura cênica, para além do texto, não importando os pendores absurdos ou grotescos nele contidos. Na primeira parceria com o Grupo 3 de Teatro, ela encontra interlocutores com fôlego para extrair dos subtextos da obra inglesa outros paradigmas sobre os sentidos da arte. Procura evitar, por exemplo, leituras moralizantes ou maniqueístas, deixando o espectador livre em suas percepções.
De fato, o caráter da obra aberta e capaz de discutir o próprio campo do fazer teatral, suas razões, superações e limites, é um dos traços marcantes no pensamento de Grace Passô. Vide a segurança com que conduziu o Grupo Lume em Os Bem-Intencionados (2012), uma simbiose de gerações. E a pesquisa continuada desenvolvida junto ao Grupo Espanca!, de Belo Horizonte, que deu frutos como Por Elise (2005), Prêmio Shell de Teatro de melhor autora em São Paulo; Marcha para Zenturo (2010), parceria com o Grupo XIX de Teatro; e O Líquido Tátil (2012), direção do também autor argentino Daniel Veronese, referência da cena portenha contemporânea.
Em recente mostra de repertório realizada no Teatro Sérgio Cardoso, o Grupo 3 compartilhou a memória dos espetáculos de que é feito. O público viu ou reviu A serpente (2005), de Nelson Rodrigues, dirigido por Yara de Novaes; O Continente Negro (2007), do chileno Marco Antonio de La Parra, por Aderbal Freire-Filho; e O Amor e Outros Estranhos Rumores – 3 Histórias de Murilo Rubião (2010), também por Yara de Novaes.
Débora Falabella e Yara de Novaes, portanto, são criadoras curtidas nessa entrega incondicional ao ofício. Princípio que está na gênese do núcleo cofundado ainda pelo produtor Gabriel Fontes Paiva. Tal filosofia de trabalho é tributária da manutenção dos lanços com colaboradores como o cenógrafo e figurinista André Cortez, o músico Morris Picciotto, que assina a trilha original, e a tradutora Silvia Gomez, que verteu Bartlett para a oralidade do português. Todos – e mais o desenho de luz da convidada Alessandra Domingues – a bordo dessas Contrações, singrando mares de insensatez e plausibilidades que dizem muito sobre nossa época.
Valmir Santos
Jornalista, crítico teatral e editor do site Teatrojornal – Leituras de Cena

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Líderes europeus retomam cúpula marcada por escândalo de espionagem dos EUA.

 França e Alemanha convidaram os líderes a pedir esclarecimentos aos Estados Unidos e estabelecer as bases de novas regras para a cooperação entre serviços secretos


Bruxelas - Os 28 chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) reunidos em uma cúpula marcada pelos escândalos de espionagem americanos retomaram nesta sexta-feira (25/10) os trabalhos em Bruxelas. Na madrugada, os presidentes europeus se separaram com, sobre a mesa, o convite a se unirem a uma iniciativa impulsionada por França e Alemanha destinada a pedir esclarecimentos aos Estados Unidos e estabelecer as bases de novas regras para a cooperação entre serviços secretos.

A chanceler alemã, Angela Merkel, está entre os 35 líderes mundiais que teriam sido espionados pelos Estados Unidos (Fabrizio Bensch/Reuters)
A chanceler alemã, Angela Merkel, está entre os 35 líderes mundiais que teriam sido espionados pelos Estados Unidos

Até o fim do dia de trabalho, a tensão foi palpável diante da enxurrada de revelações sobre a espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA) americana, que teria chegado inclusive a colocar sob escutas 35 líderes mundiais, entre eles a chanceler alemã Angela Merkel. Na manhã desta sexta-feira (25) ao chegar à reunião, o primeiro-ministro belga, Elio Di Rupo, indicou que seu país se uniu à iniciativa lançada por Paris e Berlim que consiste em "tentar um trabalho comum com os serviços de inteligência tanto dos países europeus quanto dos Estados Unidos".

Leia mais notícias em Mundo

A Grã-Bretanha aceitou o texto proposto por França e Alemanha, embora não tenha assinado a iniciativa. Na quinta-feira foram reveladas informações segundo as quais não apenas os americanos teriam espionado a Itália, mas também os britânicos. Os serviços de inteligência britânicos, segundo documentos revelados pelo ex-consultor informático da NSA, Edward Snowden, têm acesso a cabos de fibra ótica graças ao programa Tempora, o que faz deles uma peça chave na vigilância das comunicações mundiais.

Nesta sexta-feira, os trabalhos devem se concentrar no tema da imigração clandestina, três semanas depois da tragédia de Lampedusa, na Itália, quando mais de 360 imigrantes morreram em um naufrágio. Com o objetivo de evitar que estes dramas se repitam no futuro, os líderes europeus planejam principalmente reforçar a vigilância das fronteiras da UE. Sobre o conflitivo tema do asilo, que divide profundamente os países do norte da Europa e os do sul, o debate foi adiado a junho de 2014.

Durante sua reunião, os líderes europeus devem também dar sua aprovação a um acordo de associação de livre comércio com a Ucrânia, apesar das fortes reservas da Rússia, que quer manter Kiev sob sua esfera.