Uma breve análise de imagem basta para definir o que foi este “primeiro beijo gay” na TV Globo: higiênico, sem troca de fluidos, sem paixão. Uma concessão aos LGBT (bem) enquadrados nos papéis que seriam heteronormativos, do casamento comportado, com filhos/as. A diretoria global concluiu que o beijo traria mais audiência e pontos com o público.
Quando os retrocessos dos processos históricos chegam, vêm em várias ondas. Na contemporaneidade globalizada, há esse lamentável revival nos contra-movimentos que resgatam improváveis ideologias vintage . Essas são pretensamente inocentes e cheias de “boa vontade” em trazer de volta um irreal mundo florido, pleno em belezas, com tudo em seu “devido lugar”.
Bom, depende sob qual ponto-de-vista, ou background sociocultural, pensamos em “perfeição” ou em felicidade e qualidade de vida para uns, em detrimento daquelas que seriam as liberdades e equidade para (muitos) Outros. (Leia artigo do Blog sobre Stuart Hall)
Somos, no mínimo, cúmplices do resgate de valores socioculturais arcaicos, baseados nos (pre)conceitos patriarcais que, na verdade, deveriam estar bem enterrados. Pois, foi nesse sistema perverso que o racismo, a misoginia, o machismo, a homofobia e as demais formas de discriminação e de dominação tornaram-se ideologias que legitimam as desigualdades, as violências e as injustiças sociais, ao longo de séculos. Aqui e em qualquer lugar do mundo.
Hoje, com o acesso à informação e aos saberes, por diversas fontes e meios, torna-se impossível ignorar tais realidades e suas mórbidas estatísticas. Assim como é difícil não atentar para o fato de que são essas desigualdades que travam, atrasam ou estagnam as melhorias e os desenvolvimentos sociais de tantos países, regiões ou continentes.
Que o digam as pesquisas e estudos divulgados, anualmente, pela ONU e seus organismos, ou pelas ONGs internacionais que tratam dos índices de desenvolvimento humano, do trabalho, do comércio, ou das ameaças e transgressões às liberdades individuais e coletivas, em nível global.
A questão dos desequilíbrios econômicos, causados pela desigualdade e pelo desrespeito aos direitos das mulheres e das diversidades, é tão séria que será tema do próximo Fórum Anual Progressive Economy (projeto do S&D Group), no Parlamento Europeu, em Bruxelas, no início de março. A proposta do Fórum, aberto ao público, é informar amplamente sobre as políticas econômicaseuropeias, nacionais e globais, sobre a temática Desigualdade: Consequênciaspara a Sociedade , para a Política e para as Pessoas .
O principal debatedor do Fórum será o professor da Columbia University, Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel de Economia . Além de outros acadêmicos, o economista estará acompanhado por Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu ; Jörg Asmussen , secretário do Emprego e Assuntos Sociais da Alemanha; e Jutta Urpilainen , ministro das Finanças da Finlândia.
Paradoxalmente, à medida que tais desigualdades são reduzidas em algumas regiões, mesmo que em pequena escala, acabam por entrar em choque e mesmo em colapso devido aos que insistem em manter um status quo imaginário, construído a ferro e a fogo. Por meio da crença em uma suposta supremacia, incoerente e inexistente, de um grupo social sobre vários outros.
São os movimentos que se manifestam por atos explicitamente violentos, tanto fisicamente quanto moralmente, pela desqualificação sistemática – piadas, chacotas, pancadaria e discursos inflamados – contra os agentes que lutam pelas transformações culturais, sociais, políticas e econômicas de uma comunidade, de uma nação ou de todo um continente.
Essas violências ocorreram, historicamente, contra todas as ondas dos movimentos feministas, desde o vitoriano e conservador século 19 – um período de trevas tal qual a Idade Média; também contra os que lutaram pelos direitos civis dos negros (afrodescendentes e outras raças e etnias), desde a Guerra Civil norte-americana, naquele mesmo século, até os dias atuais; ou ainda contra os ativistas pelos direitos humanos e civis dos LGBT.
Hoje, acima de tudo com as graves questões das explorações (escravidão) laboral e sexual, temos ainda que intensificar as ações e as leis pelos direitos da infância e da juventude. Sem esquecer da outra ponta, de idosos e idosas, que são igualmente explorados, relegados às margens sociais e desrespeitados em seus mais fundamentais direitos humanos, previdenciários e de saúde.
Entretanto, a realidade brasileira e de tantos outros países, nos últimos 15 ou 20 anos, no âmbito desse patético resgate vintage, é que não basta o aumento explosivo e inquietante das múltiplas violências machistas, homo/lesbo/transfóbicas ou racistas – e os das explorações de menores e de idosos/as. Estamos em um limbo em que, assustadoramente, voltamos aos tempos escravocratas (e pós) da pigmentocracia.
O que é isso? Ora, são os 50 tons de cinza... as cores de pele (humana), seus níveis de melanina – na escala entre o branco (de neve!), passando pelo amarelo (orientais), pelo marrom (indígenas) e o negro (puro!) – onde o indicador favorável pende para as sociedades, ou nações, mais brancas.
São regimes de poder socio-estatais onde as representações sociais são engendradas de forma a naturalizar crenças “alvejantes” dos que se acreditam superiores, em todos os níveis. Isso enquanto a maioria populacional está bem longe de corresponder ao padrão Wasp eurocêntrico: brancos, arianos/anglo-saxônicos e cristãos (protestantes).
Os Wasp não são parte de qualquer grupo social (patriarcal) de homens (mais) brancos. E digo homens mesmo, do gênero masculino, o referencial transcendente, onipresente e onipotente. As mulheres são sempre, nesse esquema, cidadãs de segunda classe. Ou nem isso.
No que tange o conceito de colônias escravocratas, os Wasp representam, principalmente, os cidadãos nascidos nos Estados Unidos, de ascendência britânica (anglo-saxônica), que detêm, ainda em nossa contemporaneidade pós-colonial, um imenso poderio econômico, político e social. Logicamente, são parte daquela meia dúzia que é dona do mundo.
O resto – nações em desenvolvimento ou subdesenvolvidas – é piada de mau gosto, que reverbera planeta afora, ao tentar reproduzir os mesmos padrões, em e por meio de indústrias culturais/midiáticas absolutamente miméticas de suas principais matrizes norte-americanas e (norte) européias.
Como decorrência desses códigos martelados e perpetuados nas “colônias”, presenciamos casos como o que ocorreu no Peru, semana passada, nos atos de racismo praticados pela torcida do Real Garcilaso, em jogo contra o Cruzeiro, válido pela Copa Libertadores. Sempre que o jogador brasileiro Tinga, que é negro, tocava na bola, a torcida peruana fazia sons imitando macacos.
Tinga não foi o primeiro jogador vítima de racismo, nas últimas duas décadas. E não será o último, pelo andar da carruagem. Desde que a globalização chegou aos esportes – e detonou o agora intenso comércio de atletas, em várias modalidades –, as manifestações de ódio e insatisfação das torcidas voltaram-se para o lado ideológico da tal pigmentocracia. Já vimos cenas como as da torcida peruana também aqui no Brasil, na Argentina, na Rússia, na Itália, na Espanha... e com direito a bananas atiradas nos campos!
É a retomada indigesta daqueles valores que parecem ter sido enterrados vivos e que agora retornam como zumbis a nos assombrar com seus mórbidos tons de cinza. Mortos-vivos vitorianos e sádicos, que já foram resgatados pelo nazi-fascismo, pelas ditaduras várias do século XX e, agora, sob disfarces nostálgicos de “saudosistas” neo-vitorianos.
São os que querem voltar a fazer piqueniques familiares – papai, mamãe e criancinhas – em parques urbanos ou nas praias de Ipanema e do Leblon... Tudo pretensamente bonitinho, arrumadinho, seguro e, de preferência, branquinho(s).
Que outra explicação teríamos para tais demonstrações de ódio e preconceitos raciais (ou machistas ou homofóbicas) entre as populações extremamente miscigenadas, ou as chamadas não-brancas? E incluo aí todas as discriminações e exclusões porque, claramente, estão intimamente de mãos dadas! Quem se roga o direito de ser racista, até pela ignorância – falta de conhecimento e razoabilidade –, será também machista, sexista...
Passar um dia inteiro ao sol, em um parque ou na praia, é bom demais. Entretanto, seria melhor ainda se todas e todos, não importa de que raça, orientação sexual, gênero ou idade, pudessem estar ali também, livremente e com qualidade, sem medo de ataques, assédios ou assaltos. Ou estupros ou mortes. Civilizadamente, no convívio entre as diferenças. Homogeneização e sanitarismo de classes, raças, gêneros, ou comportamentos, rimam com as piores formas de dominação, vileza e mediocridade humanas.
São belos os dias ao sol em lugares, regiões ou países, onde a educação e o respeito às diversidades já fazem parte do cotidiano. Nesses pequenos paraísos terrestres, pode-se testemunhar o que a boa educação inclusiva realmente pode fazer pela prática da liberdade – para lembrar o mestre Paulo Freire. Incluindo o saber que, de fato, a liberdade individual é bem mais afinada quando se respeita o espaço e o tempo do Outro.
Em um país extremamente violento com suas “minorias”, como é o Brasil, os produtores e fomentadores da cultura de massa têm o dever, a obrigação mesmo, de pensar muito no que andam reproduzindo, ou mimetizando, nas mídias – ficcionais (entretenimento) ou noticiosas (não ficcionais).
Querem estatísticas para tomar consciência de o quanto têm colaborado com o caos das múltiplas violências? Basta saber que nosso país está em primeiríssimo lugar mundial nos assassinatos contra os LGBT, com pelo menos uma ocorrência (registrada) por dia. E é hoje o quarto mais violento contra as mulheres, com mais de 15 feminicídios diários (uma mulher é assassinada brutalmente – em crimes passionais – a cada 1h30min). Isso sem contar que a violência de gênero (inclui os LGBT) também estupra, abusa, ameaça e torna as vítimas socialmente incapazes.
Segundo dados estatísticos e notas técnicas, recém-divulgados pelo I PEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ao considerar apenas o universo dos indivíduos que sofreram morte violenta no país, entre 1996 e 2010, constatou-se que, para além das características socioeconômicas – como escolaridade, gênero, idade e estado civil –, a cor da pele da vítima, quando preta ou parda, faz aumentar a probabilidade de o mesmo ser vitima de homicídio em cerca de oito pontos percentuais.
“O negro é duplamente discriminado no Brasil, por sua situação socioeconômica e por sua cor de pele. Tais discriminações combinadas podem explicar a maior prevalência de homicídios de negros vis-à-vis o resto da população”, afirma a nota do Ipea. Os negros representam 48,2% dos trabalhadores nas regiões metropolitanas. No entanto, a média salarial deles chega a ser 36,1% menor do que a de não-negros.
Estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) fotografam o movimento Um Bilhão que se Ergue , pelo fim da violência contra mulheres e meninas, em Recife.
Novelas: estereótipos e violências
Não há mais espaço para fazer espetáculos circenses com beijos, comportamentos e relacionamentos entre os LGBT, como ocorreu, por exemplo, na última novela das 9, da TV Globo. Nela, os três personagens gays parecem saídos de um conto de fadas da Disney. A “bicha burra, mas meiga”; o “advogado do diabo” que não assume a própria sexualidade, mas se redime no fim; e a “bicha má” que vira princesa e resgata todo mundo na trama. Inclusive, o pai ultra mau caráter, conservador e machista.
Na higiênica homossexualidade globete, não existem (ou não são vistos) gays (ou lésbicas ou bi/transexuais) que sejam gente como todas e todos na face da terra. Que transem e curtam por aí com quem bem entendem. Que frequentem qualquer lugar (inclusive as saunas e boates “devassas”) e que se beijem e façam carinhos fora do “casamento” bonitinho, armado no fim para o personagem Felix. Senhor Walcyr Carrasco, bata-me um abacate! Ou vá viver e escrever na Disneylândia.
Aliás, essa foi uma novela (como tantas outras) que promoveu os mais perversos estereótipos que funcionam contra as mulheres. Nela, nenhuma personagem feminina é minimamente “saudável”. Nem mesmo a certinha Paloma, uma santa que arrisca a própria vida para ser “mãe” e para satisfazer o seu macho. Ou para resgatar o pai grosseiro que também a maltrata e manipula no enredo.
As outras mulheres? Todas vagabundas, interesseiras, assassinas, infiéis... Em suma, os tradicionais estereótipos: bruxas, malvadas/manipuladoras, femmes fatales que, em algum momento, destruirão “o homem”. Quanta misoginia! O Carrasco, homossexual, encaixou-se como luva em outro perverso construto cultural: o de que os gays odeiam as mulheres.
E os negros? Os indígenas? Ah, esses são marcados pela invisibilidade. Nem aparecem nessas produções. Quando estão lá, continuam (mal) representados como empregadas(os) domésticas(os), enfermeiras/os, faveladas/os, enfim, seres marginais, da “periferia”, servis às classes branquinhas (escala pigmentocrática) mais abastadas. Vide os personagens negros ou pardos que estão, agora, na novela Em Família.
Não me venham com essa de que “é assim na vida real”! Que arte e a vida se imitam. Não, não é assim. É, sim, o que querem fazer acreditar, no mundo do faz-de-conta. O papel da arte (e do foco nos casos de produções documentais) é justamente o de transformar. O de alertar, acordar e mudar. Jamais o de meramente reproduzir construtos socioculturais para perpetuá-los.
Há muito, os negros ou não-brancos (imigrantes), as feministas e os LGBT demandam a reviravolta conceitual e ideológica nas indústrias culturais norte-americanas e européias. Tudo para que as representações sociais sejam, primeiramente, pela visibilidade de seus costumes, hábitos e comportamentos sociais e culturais. Não apenas os “reais” mas de forma dinâmica e afirmativa. Para que façam parte de escolas e universidades, visualizem possibilidades outras de vida e galguem melhores posições na pirâmide social.
O festival misógino, machista, racista e homofóbico é mesmo marca registrada das produções audiovisuais brasileiras, pouco importa quem as roteirize, produza e dirija. Os “autores/as” gays, mulheres ou miscigenados espantam por funcionarem como peças ventríloquas no esquema industrial. Talvez por serem tão despreparados e rasos. Talvez porque não querem perder dinheiro e status quo.Ou, pior, são mesmo fruto e ativos repassadores/as dos códigos culturais que tanto queremos mudar.
Os exemplos das duas últimas novelas, Amor à Vida e a atual Em Família , chegam a provocar náuseas em qualquer pessoa mais atenta, mais conectada às reais necessidades contemporâneas.
Quando será que, em qualquer praia ou parque do Brasil, não mais ouviremos piadas machistas e/ou ameaças às mulheres que tiram suas blusas, ou sutiãs, para tomar sol? Não teriam elas o mesmo direito que eles? São vadias ou vagabundas? Até quando as brasileiras terão que fazer os papéis estereotipados de boas mães (reprodutoras) ou avós? Terão sempre que aparecer na fita como mulheres silenciosas e recatadas?
Ou quando será que os gays (LGBTI) poderão se beijar ao sol, sem necessitarem do aval sanitário das absurdas novelas, filmes e telejornais globetes? Por “globetes” defino não apenas as organizações Globo, mas todas as demais empresas de entretenimento e de notícias no Brasil. Não dão um passo sem antes consultar o que foi feito ou está em alta na matriz...
Quando será que veremos pardos, negros, índios ou imigrantes (médio) orientais serem representados como seres humanos, homens e mulheres, que estudam e trabalham para e por vidas confortáveis, amorosas e dignas? Sem a pecha de marginais, favelados, violentos, exóticos excêntricos, terroristas (caso do palestino de Amor à Vida , um matador de criancinhas).
Isso porque, segundo nossas indústrias culturais – aquelas satélites do eurocentrismo, que mimetizam aliás o pior lixo que nos é exportado –, os estereótipos perpetuados, por exemplo, para as mulheres são esses, não é? Senão são santas como vacas mansas, leiteiras e reprodutoras, são mulheres “secas”, mal amadas, bruxas e malvadas. Vadias a vaguear por aí, à caça de homens que as sustentem e escravizem (um ao outro). Até que sejam mortas e/ou descartadas por seus machos, para que a fila ande.
Aterrador. Não há como não associar isso tudo à violência de gênero que grassa e faz com que o Brasil figure, há décadas, entre os que mais assassinam mulheres em todo o mundo. Note-se que elas representam mais de 50% da população mundial. Todavia, ainda temos que suportar esses papéis sendo martelados nas novelas, filmes e teatros brasileiros, diuturnamente.
Em suma, nossa rica “dramaturgia” é mesmo um poço de deseducação e desserviço a toda a sociedade. Raramente, ou nunca, há personagens femininas (ou das “minorias”) bem-sucedidas, que trabalham, estudam e vivem bem, casadas ou solteiras. Tendo procriado ou não. Aliás, raramente há personagens femininas bem trabalhadas na dramaturgia. São quase sempre estepes, panos de fundo, para enredos essencialmente masculinos.
Outro dia, ouvi de uma amiga que ela estava com medo de “passar do tempo” de ser mãe. O seu “relógio biológico” já estaria disparando o alarme fazia algum tempo. Deve ser a centésima vez que escuto isso de alguma conhecida, amiga ou parente. Mas, o quê ou quem determina qual é a hora ou o tempo de uma mulher engravidar? Que mito é esse de “relógio biológico”?
Há milênios, as mulheres engravidam quando fazem sexo, em qualquer tempo e enquanto forem “férteis”, ou porque querem ou porque não tiveram acesso à educação sexual ou aos contraceptivos. Nem vou entrar no debate de que os homens também são responsáveis pela gravidez.
Entretanto, em nossa contemporaneidade vintage , que segue os ditames de meia dúzia de “dramaturgos globais”, as mulheres adquiriram o tal relógio biológico que dispara se elas chegam aos 35 anos sem engravidar. Pior, ditam que elas têm que ser mães, mesmo que tardiamente, nem que isso as mate ou inviabilize suas vidas.
Sobretudo, devem ser mães mesmo que não queiram, que não tenham vocação ou que não gostem da idéia de serem responsáveis por alguém pelo resto de suas vidas. Sim, porque em países como o Brasil, os homens não são co-responsáveis pela criação das crianças. Não são cobrados nem xingados por isso, quando as abandonam ou nem as registram. O dever é da mãe/mulher. (Leia artigo e estatísticas aqui no Blog)
Acusado de espancar até a morte o próprio filho, de apenas 8 anos, Alex André Moraes Soeiro, 34, foi preso na terça-feira passada por policiais da 34ª DP (em Bangu, no Rio de Janeiro). A Justiça decretou mandado de pr isão temporária de 30 dias por homicídio qualificado.
O fato é que a maternidade compulsória de nossos tempos está a por no mundo seres humanos que serão (mal) criados e (mal) educados por outros seres humanos que não deveriam ou não poderiam ser pais ou mães. A pergunta é se alguém que posterga o quanto pode, ou mesmo que sabota, quer mesmo ser mãe e/ou assumir uma relação (a maternidade) que durará pela vida afora. Não é provável. Por quê, então, cobrar-se pelo alarme do relógio imaginário, senão pela obrigação social que vem sendo engendrada por uma cultura de massa irresponsável e caça-níquel?
As crianças abandonadas, prostituídas, exploradas em trabalhos impróprios e criadas fora da escola, ou sem os devidos cuidados e amor, deveriam tornar-se encargo financeiro dos “autores” de novelas e filmes. Ou dos religiosos que agora pregam também nas TVs, rádios e redes sociais (internet), país afora.
O mesmo deveria ser sentenciado para que arquem com as despesas dos LGBT, das mulheres ou das “minorias” raciais e étnicas, após serem espancados, estuprados, abusados, vilipendiados ou expropriados de seus futuros – escolas, bens, terras, propriedades (físicas e intelectuais).
O deputado Luís Carlos Heinze (PP-RS) afirmou que índios, quilombolas, gays, lésbicas e travestis são “tudo o que não presta”.
Não é ridícula a pigmentocracia em sociedades não-brancas de tantos países, regiões ou continentes? Apenas para tornar mais robusta a teoria de que os preconceitos patriarcais englobam todas as diversidades, acrescento aqui o movimento de ativistas do Greenpeace, sobre um fato ocorrido com parlamentares do Rio Grande do Sul.
Nas imagens, gravadas durante uma audiência, os deputados Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) não só incitam a violência contra lideranças indígenas – as que tentam retomar suas terras invadidas por fazendeiros, grileiros e madeireiros –, como também insultam outras populações tradicionais do Brasil e ainda os LGBT.
Os parlamentares referem-se a índios, quilombolas, gays, lésbicas e transgêneros como “tudo o que não presta”, e estimulam agricultores a usarem de segurança armada para expulsar indígenas do que consideram serem suas terras. Esses políticos contam, desde sempre, com a ajudinha amiga da nossa branquíssima indústria de entretenimento – ficcional ou não. Um desastre que torna utópica a noção de igualdade ou de direitos humanos e civis por aqui.
Agora dá para comparar o que é a HQ da francesa Julie Maroh e o quanto o filme Azul é a Cor Mais Quente (La Vie d’Adèle, França, 2013), escrito e dirigido por Abdelatif Kechiche, tem outros códigos, bastante machistas . A Martins Fontes lançou os quadrinhos em português! Escrevi sobre o filme, inclusive sobre o que Julie Maroh pensa sobre o roteiro da película, aqui no Blog:http://www.dzai.com.br/igualdade/blog/blogdaigualdade?tv_pos_id=143949
Links relacionados:
Definição de Wasp:
Deputado diz que quilombolas, índios e homossexuais são “tudo o que não presta” e incita violência contra as minorias:
Debate sobre mídia e responsabilidade social, ética e democracia participativa no TED Talks, com David Puttnam. Ele é educador e cineasta britânico, além de atuar na política (partido trabalhista inglês):
Notas sobre Violência de Gênero e Escravidão)
São 250 milhões de crianças sem futuro no mundo
E mais de 200 milhões de meninas "desaparecidas"/assassinadas)
Devaneios sobre garis e Igualdade
... nas faixas, nos rótulos e na lixeira)
(Ipea: Lei Maria da Penha não consegue reduzir homicídios de mulheres)
(Mais de 15 mulheres morrem de forma violenta no Brasil, diariamente)
Média salarial dos negros é 36% menor, aponta pesquisa do Dieese
Estupros superam casos de assassinatos, diz Segurança Pública
Mulheres violentadas sofrem com o trauma e com a falta de assistência
O Globo: Guerra contra as Mulheres
Sobre esta Blogueira:
Sandra Machado é jornalista e professora universitária. Doutora em História – com pesquisa em Estudos de Gênero, das Mulheres, Cinema, Multiculturalismo e Transnacionalismo, pela Universidade de Brasília (UnB). É Master of Arts em Cinema e Video pela The American University, Washington, D.C, EUA. Repórter e produtora para mídias audiovisuais e impressas - Correio Braziliense, Jornal do Brasil, TV Globo e o Caderno de Livros de O Globo. Sua tese de doutorado está em processo de edição em livro, intitulado Câmera Clara - Tela Obscura: Estereótipos Femininos e Questões de Gênero nos Cinemas.