terça-feira, 10 de setembro de 2013

Lixo de gente

10/09/2013 - 03h20


Jânio de Freitas.

 
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Há quem pense que faz pouco quem passa a vida, para ganhá-la honestamente, lidando com os restos deixados pelos outros. É o que pensam --se os imaginamos capazes de pensar-- os depredadores que despejam nas ruas o lixo das caçambas públicas, a pretexto de manifestação e protesto. O que fazem é impor um acréscimo perverso de degradação aos garis, sem a mais mínima consideração humana a esses a quem devemos, mais do que a quaisquer outros, a possibilidade de vida em comum nas usinas de imundice chamadas de cidades.
Destruir utensílios urbanos e emporcalhar prédios públicos é antissocial. Quebrar porta de banco como "agressão ao capitalismo" é imbecilidade. Mas não é provável que os autores de tais façanhas sejam capazes de perceber que não produziram efeito algum, além da mera destruição.
Mas quando voltam a sua cretinice feroz contra alheios indefesos e, ainda pior, já subjugados pela vida, aí essas bestas de cara escondida ou descoberta se tornam revoltantes. Por mim, são indefensáveis. O que quer que lhes aconteça é problema estritamente seu. Nada tem a ver com democracia ou com direitos humanos.
Poderiam ser levados para a cadeia ou o hospital metidos em uma caçamba de lixo.
A SOLUÇÃO
Tão limitados à política do "somos contra" quanto a União Soviética, os russos de Putin romperam ontem com a tradição.
Sua proposta de que a Síria submeta à vigilância internacional o seu estoque de armas químicas é a primeira ideia inteligente para o problema sírio. A solução política que esvazie a ansiedade bélica de Estados Unidos e França.
A proposta não convém a Barack Obama, tanto por vir do governo Putin, como por lhe retirar o tão necessário faturamento na opinião pública americana, como todas as guerras e ameaças fazem por lá.
Também por ser russa, no entanto, a ideia tende a encontrar na Síria de Assad a receptividade que lhe faltaria se proveniente de potência ocidental. Seria interessante ver a inteligência prevalecer, por uma vez, sobre a sanha de bombardear, arrasar, matar.
OS MESMOS
Primeira-dama do agronegócio, a senadora Kátia Abreu sustentou, em artigo na Folha, que "os financiadores (da defesa dos índios) são de países que competem com a agricultura brasileira e que cobiçam nossas riquezas minerais e vegetais". E, esqueceu-se a senadora, são também os fornecedores dos agrotóxicos e das sementes deformadas em uso pelo agronegócio, para aumentar sua lucratividade em detrimento de outras e melhores qualidades da agricultura esperáveis pelos consumidores daqui e de fora.
REFORMA
A ministra Marta Suplicy, da Cultura ou lá do que esteja sob esse rótulo, segundo a coluna de Ancelmo Gois ("O Globo"), emitiu breve informação sobre a autoritária proibição de biografias não autorizadas pelo autor ou por parentes: "Ainda não formei opinião".
Melhor assim. Da última vez que formou opinião, a cultura da ministra induziu-a destinar dinheiro dos cofres públicos para um costureiro exibir seus babados em Paris. O mesmo que, disse o próprio, já o fizera por lá duas vezes e com dinheiro seu.
Agora não é Ministério da Cultura, é Ministério da Costura.
Daniel Marenco/Folhapress
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

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